24 de novembro de 2012

Salve, Recidianos do Brasil


Começamos o nosso breve relato querendo acreditar que “vem vamos embora, que esperar não é fazer, quem sabe faz na hora, não espera acontecer". Ontem diversas organizações realizaram mais um ato contra o genocídio da população preta, pobre e periférica, o modo mais visível e absurdo por meio da qual o conflito de classe está se desenrolando atualmente. Estas mesmas organizações, que vêm se encontrando semanalmente a fim de levantar dados reais, explicitar o que tem ocorrido no Estado, a fim de superar este momento que estamos sobrevivendo. Dizer que "estamos vivendo" é um tanto utópico neste momento. Sobrevivemos a cada dia à violência traçada pelo Estado, nesta semana perdemos uma militante integrante de um grupo de jovens católicos que atende vítimas da violência. Foi morta na noite de anteontem a 73 metros de sua casa, no Jardim São Luís, zona sul da capital. Um dos homens pulou da moto, entrou no bar ainda de capacete e apontou a arma, disparando cerca de 30 vezes, afirmaram testemunhas. Três tiros acertaram Luciene. Ela morreu no local, diante de primos e amigos. Esta foi a 17ª chacina do ano na Grande São Paulo, a quarta desde sábado. 

Na zona sul de SP “tá tudo errado”, as crianças estão com medo de irem para as escolas, os jovens já não podem conversar nas calçadas e praças, os adultos tendo com única diversão o bar, já não os podem frequentar, pois o nosso direito e ir e vir é violado. Dia pós dia, como bichos estamos vivendo por traz das grades das nossas casas, quando ainda podemos tê-las. 

Ontem caiu o então secretário de segurança. Para nós, moradores e trabalhadores nas periferias, poucos motivos temos para acreditar que algo vai mudar em curto prazo. Não querendo ser pessimistas, mas já sendo, nem a longo prazo, pois está política já está instalada em SP há muitas gestões, deste que o atual partido político assumiu. Algumas falas da comunidade demonstram isto: "É revoltante. A gente vive em uma guerra civil e o governo, acuado, não faz nada. É uma dor terrível", disse um primo de Luciene, que será enterrada nesta manhã. A polícia afirma que ainda não tem suspeitos e ”a gente vê na TV e acha que quem morre é sempre envolvido com o crime. Mas, estão passando e atirando em qualquer um", afirma o dono de uma lanchonete do bairro, que não quis dar o nome. Morreu mais gente na capital paulista no ano de 2012, que nem terminou ainda, do que EM TODO O PERÍODO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL (20 ANOS). 

Assim, semana a semana explicitamos as nossas angustias que saem dos nossos corações. Que possam ganhar o mundo. Assim, talvez teremos a possibilidade de voltar a VIVER. Sobre o “apoio do governo federal”, é importante frisar que nas TVs paulistas todos os dias estão clamando pelas Forças Armadas para “contribuir” no combate ao crime organizado. Entretanto na perspectiva dos movimentos populares é evidente que não precisamos de “mais policia”, pelo contrário, o que se precisa é que as polícias parem de torturar e matar. Para tanto, há que se ter uma contribuição federal sim, mas principalmente para se investigar e combater os crimes cometidos pelos agentes policiais. 

Medidas apontadas pelos movimentos com o objetivo de reverter este quadro: 

1. Desmilitarização das policias no Brasil; 
2. Implantação urgente do mecanismo estadual de combate a tortura nos Estados. 
3. Possibilitar a participação social efetiva na construção das políticas públicas de segurança; 
4. Fim de lavratura de BOs de “resistência seguida de morte”; 
5. Separação da policia científica e do IML da secretária de segurança. 
6. Que o Estado dê garantia de vida e assistência psicológica a todos os familiares de vitimas com participação de policiais, além de garantir uma indenização em reparação à grave violação de direitos cometida pelos agentes estatais. 

RECID–SP 
Em 23/11/2012

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